O que são tumores germinativos do mediastino e como é o tratamento?

Letícia Lauricella • June 26, 2025

Os tumores germinativos do mediastino são neoplasias raras que se originam de células germinativas localizadas fora das gônadas, especialmente na região do mediastino anterior — a parte central do tórax entre os pulmões. Embora mais conhecidos por se desenvolverem nos testículos ou ovários, esses tumores podem surgir em áreas incomuns, como o mediastino, exigindo atenção especializada.


Neste artigo, você vai entender o que são os tumores germinativos do mediastino, como se manifestam e quais são as principais formas de tratamento.
Continue a leitura para se informar sobre essa condição.


O que são tumores germinativos?


Os tumores germinativos
se originam das células germinativas  — aquelas que, em condições normais, dão origem aos gametas (óvulos e espermatozoides). Durante o desenvolvimento embrionário, essas células podem migrar  para locais fora das gônadas e, por motivos ainda não totalmente compreendidos, formar tumores em regiões como o mediastino, que é a área central do tórax localizada entre os pulmões.


Embora sejam mais comuns nos testículos e ovários, os tumores germinativos também podem surgir no mediastino anterior, representando cerca de
15%  dos tumores dessa região. Eles acometem principalmente homens jovens (97%), com idade entre 20 e 40 anos, segundo o National Cancer Institute (NCI).


Classificação dos tumores germinativos do mediastino


Os tumores germinativos localizados no mediastino são divididos em dois grupos principais, e essa classificação é fundamental para definir a estratégia de tratamento e estimar o prognóstico do paciente.


Tumores germinativos seminomatosos


  • Costumam crescer de forma mais lenta;
  • Respondem bem à quimioterapia e, em alguns casos, também à radioterapia;
  • Quando diagnosticados precocemente, geralmente apresentam bom prognóstico.


Tumores germinativos não seminomatosos


  • São compostos por diferentes tipos celulares, como teratoma (maduro e imaturo), carcinoma embrionário, tumor do saco vitelino e coriocarcinoma;
  • No caso dos teratomas, podem ser benignos (maduro) ou agressivos (imaturos)
  • Com exceção dos teratomas maduros, os tumores não seminomatosos tendem a ser mais agressivos e de crescimento rápido;
  • Frequentemente exigem um tratamento mais intensivo e combinado, com quimioterapia e cirurgia.


A distinção entre esses dois tipos é feita com base em exames laboratoriais, imagem e, principalmente, pela análise da biópsia do tumor.

Quais são os sintomas mais comuns?


Os tumores germinativos do mediastino
podem não causar sintomas nas fases iniciais e, muitas vezes, são descobertos em exames de imagem solicitados por outros motivos. No entanto, conforme o tumor cresce, ele pode pressionar estruturas importantes do tórax e desencadear sinais clínicos.


Os sintomas mais frequentes incluem:


  • Dor torácica persistente ou sensação de pressão no peito;
  • Tosse contínua, que pode vir acompanhada de sangue;
  • Falta de ar, especialmente ao fazer esforço;
  • Inchaço no rosto ou no pescoço, devido à compressão de grandes vasos;
  • Cansaço constante e perda de peso sem motivo aparente.


Em casos mais avançados, o tumor pode comprometer estruturas como a traqueia, nervos e vasos sanguíneos centrais, gerando sintomas mais graves e exigindo intervenção rápida.


Como é feito o diagnóstico dos tumores germinativos do mediastino?


O diagnóstico dos tumores germinativos do mediastino é feito através dos exames de imagem e exames de sangue. Veja os principais:


  1. Exames de imagem:
  • Radiografia de tórax: muitas vezes é o primeiro exame solicitado e pode mostrar uma massa no mediastino.
  • Tomografia computadorizada (TC): é o exame mais utilizado para caracterizar o tumor, mostrando sua localização, tamanho, relação com estruturas vizinhas e presença de linfonodos.
  • Ressonância magnética: pode ser útil em casos selecionados, especialmente para avaliar a extensão para estruturas do mediastino como vasos,  coração, parede torácica.


  2. Exames de sangue (marcadores tumorais):
    São fundamentais para diferenciar os tipos de tumores germinativos e acompanhar a resposta ao tratamento:

  • Alfafetoproteína (AFP):
  • Frequentemente elevada nos tumores do tipo seio endodérmico (yolk sac).
  • Pode também estar aumentada em tumores mistos que contenham esse componente.
  • Beta-hCG (gonadotrofina coriônica beta):
  • Elevado em carcinoma embrionário e, principalmente, nos coriocarcinomas.
  • Também pode estar discretamente aumentado em tumores mistos com essas células.
  • LDH (lactato desidrogenase):
  • Não é específico, mas pode estar aumentado em tumores de crescimento rápido, como os não seminomatosos, e reflete a carga tumoral.


Esses exames ajudam não só no diagnóstico inicial, mas também são importantes para o estadiamento e o monitoramento da resposta ao tratamento. A combinação entre imagem, marcadores e, quando necessário, biópsia, orienta a conduta de forma individualizada.


Quando a biópsia é necessária?


A necessidade de biópsia depende do conjunto de informações obtidas nos exames de imagem e nos marcadores tumorais:


  • Quando a biópsia pode ser evitada:
    Se o paciente apresenta uma
    massa mediastinal compatível com tumor germinativo, associada a elevação marcante de AFP e/ou beta-hCG, o diagnóstico pode ser considerado presuntivo — principalmente em homens jovens. Nesses casos, o início do tratamento quimioterápico pode ser indicado sem biópsia, pois o risco de atraso na terapia supera o benefício diagnóstico do procedimento invasivo.


  • Quando a biópsia é necessária:
    Se os
    marcadores estão normais ou pouco alterados, ou se os exames de imagem não são conclusivos, a biópsia torna-se essencial para confirmar o diagnóstico e excluir outras neoplasias mediastinais, como linfomas ou tumores tímicos.
    A biópsia também é importante em casos de
    tumores germinativos seminomatosos, pois eles geralmente não elevam a AFP e podem se confundir com outros tipos de tumor.


O método mais utilizado costuma ser a biópsia guiada por TC, mas em algumas situações pode-se optar por abordagem cirúrgica (como mediastinoscopia ou toracoscopia), dependendo da localização e do risco do procedimento.


Como é feito o tratamento dos tumores germinativos do mediastino?


O tratamento dos tumores germinativos do mediastino é definido com base no
tipo  do tumor (seminomatoso ou não seminomatoso), na extensão  da doença e no estado clínico do paciente. O objetivo principal  é controlar o tumor de forma segura e eficaz, preservando a função das estruturas torácicas e, sempre que possível, oferecendo chance de cura. As abordagens mais comuns incluem:


Quimioterapia


A quimioterapia costuma ser o
primeiro passo no tratamento, especialmente nos casos de tumores não seminomatosos, que são mais agressivos.


Frequentemente, o tratamento começa com quimioterapia para
reduzir o volume do tumor antes de qualquer abordagem cirúrgica.


Os esquemas mais utilizados combinam medicamentos como bleomicina, etoposídeo e cisplatina, conhecidos como regime BEP.


A resposta à quimioterapia costuma ser um fator decisivo para o prognóstico, especialmente nos tumores mais agressivos.


Veja abaixo a tomografia pré e pós quimioterapia, mostrando a redução importante do tamanho de um tumor não seminomatoso, restando uma pequena massa residual que será removida cirurgicamente.



Cirurgia


A cirurgia tem papel fundamental  no caso dos
tumores não seminomatosos, e objetiva a remoção de lesões residuais após a quimioterapia. A escolha da técnica depende do tamanho e da localização do tumor, além das condições do paciente.


Pode ser feita por
toracotomia ou esternotomia (abordagem tradicional) ou por técnicas minimamente invasivas, como videotoracoscopia ou cirurgia robótica, sempre que indicadas.


O objetivo é
retirar o tumor com segurança, minimizando riscos e preservando ao máximo as estruturas saudáveis ao redor.


Radioterapia


A radioterapia pode ser indicada em casos selecionados, principalmente nos tumores
seminomatosos, que apresentam boa resposta à radiação.


É uma técnica que não costuma ser utilizada como tratamento principal nos tumores não seminomatosos. Sendo considerada uma alternativa
complementar em situações específicas, conforme avaliação da equipe médica.


Qual é o prognóstico?


O prognóstico varia de acordo com o
subtipo do tumor e o estágio da doença no momento do diagnóstico. De forma geral:


Tumores seminomatosos costumam ter evolução mais favorável, com
taxas de cura superiores a 80% quando o tratamento é iniciado de forma precoce e bem conduzida.


Tumores não seminomatosos, por serem mais agressivos, podem ter evolução mais desafiadora, mas muitos pacientes respondem bem à
combinação entre quimioterapia e cirurgia. Nesses casos, as taxas de sobrevida em cinco anos podem chegar a 40% a 60%, segundo o Journal of Clinical Oncology.


É fundamental lembrar que, mesmo após o término do tratamento,
o acompanhamento médico regular é indispensável para identificar qualquer sinal de recidiva, monitorar possíveis efeitos tardios e orientar o paciente em todas as etapas da recuperação.


Perguntas frequentes


  • O que é um tumor germinativo do mediastino?

    É um tipo raro de tumor que se origina de células germinativas localizadas na região central do tórax, entre os pulmões, conhecida como mediastino. Costuma afetar principalmente homens jovens.

  • Quais são os tumores germinativos?

    Os tumores germinativos são divididos em seminomatosos e não seminomatosos. Ambos podem surgir nas gônadas ou fora delas, como no mediastino, e diferem em comportamento e resposta ao tratamento.

  • Quais são os tipos de tumores germinativos do mediastino?

    São divididos em seminomatosos e não seminomatosos.

  • Quais sintomas os tumores germinativos do mediastino podem causar?

    Dor no peito, tosse persistente, falta de ar, inchaço no pescoço ou rosto e perda de peso são alguns dos sintomas mais comuns, especialmente em casos mais avançados.

  • Como é feito o diagnóstico desses tumores?

    Envolve tomografia, ressonância magnética, exames de sangue com marcadores tumorais e em alguns casos a biópsia para confirmação do tipo do tumor.


  • Qual é o principal tratamento para tumores germinativos do mediastino?

    A quimioterapia é o tratamento inicial mais comum, exceto nos teratomas maduros, que são tratados apenas com cirurgia. Para os tumores não-seminomatosos a cirurgia pode ser indicada após a redução do tumor e para os tumores seminomatosos, pode ser feita uma radioterapia após a quimioterapia.

  • Quando a cirurgia é indicada nesses casos?

    Geralmente é realizada para remover o tumor residual após a quimioterapia, com o objetivo de eliminar qualquer vestígio da doença.

  • A radioterapia é usada no tratamento desses tumores?

    Sim, mas principalmente em tumores seminomatosos. Nos não seminomatosos, a radioterapia tem um papel mais limitado.


  • Esses tumores têm cura?

    Muitos casos têm bom prognóstico quando diagnosticados e tratados precocemente. Tumores seminomatosos têm taxas de cura acima de 80%, enquanto os não seminomatosos têm taxas de sobrevida de 40% a 60%.


  • O tumor germinativo do mediastino pode voltar após o tratamento?

    Sim. Mesmo após tratamento completo, é possível haver recidiva. Por isso, o acompanhamento regular com exames é essencial.


  • É necessário retirar o tumor mesmo depois da quimioterapia?

    Na maioria dos casos, sim. A cirurgia é indicada para remover o tumor residual, que pode conter células malignas mesmo após a resposta ao tratamento.


Cirurgia torácica em São Paulo | Dra. Letícia Lauricella


Os tumores germinativos do mediastino são raros, mas tratáveis. Quando identificados precocemente e conduzidos por uma equipe experiente, as chances de controle e cura são significativas. O sucesso do tratamento depende da combinação entre
diagnóstico preciso, terapia adequada e acompanhamento contínuo. Se você ou alguém próximo recebeu esse diagnóstico, busque atendimento com um especialista e tire todas as suas dúvidas.


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Dra. Leticia Lauricella, formada em Medicina na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), sendo a primeira mulher contratada como assistente do grupo de Cirurgia Torácica da FMUSP. Atuando em hospitais em São Paulo, a Dra. Leticia tem o objetivo de oferecer aos pacientes as opções mais avançadas e eficazes de tratamento, ao mesmo tempo em que busca contribuir para o avanço da ciência médica por meio da pesquisa. Para mais informações navegue no site ou para agendar uma consulta clique aqui.


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